quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Cinema

Reza a lenda que o filme O MESTRE, de Paul Thomas Anderson, é sobre a Cientologia ou o surgimento desta, como chamarei?, seita.
Bom, que as semelhanças são muitas, isso são. Assim como na vida real, a seita a Causa surge a partir das idéias de um autor de textos quase de ficção científica, temos a figura do líder forte, da impossibilidade de discussão do que ele diz, além da figura secundária das mulheres. Ou seja, bem parecido com o proposto pela "religião" de Tom Cruise...
E é aí que o roteiro é tão inteligente ao mostrar todas as contradições! O MESTRE narra a trajetória de um homem, interpretado pelo maravilhoso Phillip Seymour Hoffman, que acha que desenvolveu um sistema de crenças perfeito. Neste as mulheres parecem ter espaço apenas como procriadoras, vide a figura grávida da personagem de Amy Adams durante grande parte da projeção. Mas quando ela fala notamos quem realmente manda. E, ainda, a principal defensora da Causa é uma personagem feminina também.
A questão do controle é também bem interessante. O Mestre prega que devemos ser controlados e educados não importando o que escutamos. Ele elabora verdadeiros sistemas para tornar qualquer pessoa a mais calma mesmo em mares tempestuosas, só que ao receber críticas age de forma violenta e agressiva, impedindo que o outro fale.
Chegamos, então, ao personagem Freddie, interpretado por Joaquin Phoenix. 
(E, antes de continuar, devo falar como é bom ter Joaquin de volta, fazendo esses papéis de pessoas complexas como ninguém. Fiquei feliz em vê-lo porque é sempre um prazer ver um grande ator fazendo o que sabe de melhor. O papel dele é cheio de nuances e detalhes. Não consigo imaginar mais ninguém que pudesse fazer Freddie tão bem. Talvez o melhor papel da já sensacional carreira de Joaquin.)
Freddie é uma figura errante, que saiu da guerra com uma condição psicológica frágil e viciado em bebidas que ele mesmo fazia, usando coisas como o líquido que servia para revelar fotos. 
Por um acidente do destino, Freddie entra no navio do Mestre e é meio que adotado por ele. Este quer transformar aquele homem perdido e sem nexo em uma pessoa feliz e controlada. Quase como um teste para suas teorias.
Aliás, essa é a racionalização que o Mestre faz e a explicação que dá para todos os seguidores e família quando questionado do por quê de manter Freddie por perto mesmo quando o comportamento dele ameaça seu grupo de pensadores.
Mas a relação não é bem assim. Freddie é a personificação dos desejos do Mestre. Em alguns momentos é tratado como um seguidor da Causa, em outros como um animal de estimação mas, no final, ele é mesmo o amor do criador da Causa. Mesmo quando este diz que, em outra vida, eles serão inimigos mortais está verdadeiramente dizendo que deseja que sejam amantes.
E este, caros leitores e leitoras, é o verdadeiro tema do filme O MESTRE: a hipocrisia. Dizermos que somos o que não somos e, mesmo sabendo que não somos, querermos servir de exemplo para os outros.
Há ainda um outro tema do filme: o quanto somos capazes de pensar por conta própria. Mesmo ao concordarmos com um sistema de crenças devemos sim manter a nossa capacidade de análise e de distinguir o certo do errado. O Bem do Mal. Assim mesmo, com letra maiúscula. 
No final, o que fica d'O MESTRE é uma reflexão profunda sobre o mundo no qual vivemos e de como queremos viver nele. E esta é uma resposta que cada um de nós tem que encontrar.


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